“Eu não tenho escritório. Trabalho resolvendo os problemas de projeto à noite, quando todo mundo dorme, quando o telefone não toca, e tudo é silêncio. Depois eu monto um escritório com os engenheiros, os técnicos e os operários no próprio canteiro.”

Lina Bo Bardi

Achillina Bo Bardi, mais conhecida como Lina Bo Bardi, nasceu em Roma, Itália, no dia 5 de dezembro de 1914. Isso pode ter chocado algumas pessoas, mas de fato, Lina Bo Bardi era italiana, e não brasileira como muitos pensam.

Fig 1. Lina Boa Bardi e seu bichano.

Lina veio a se formar como arquiteta no ano de 1939, na Universidade de Roma, e foi no norte da Itália, especificadamente na cidade de Milão, que sua carreira veio a deslanchar. Nesse tempo colaborou e ajudou a fundar diversas revistas chegando a trabalhar com Gio Ponti e Carlo Pagani, famosos arquitetos da época [1]. E por falar em revistas, é de suma importância destacar que grande parte do trabalho de Lina Bo Bardi foi teórico, principalmente por meio de pesquisas acadêmicas, direção de revistas e publicação de artigos.

Com todo esse sucesso intelectual, Lina decide empreender e fundar o seu próprio escritório, no entanto, o mesmo não durou muito tempo, pois como todos sabem, naquela época a Europa estava em plena segunda guerra mundial, sendo assim, Lina vive um período de poucos serviços, e para piorar, teve seu escritório bombardeado em 1943.

Fig. 2.  Mussolini e Hitler, aliados fascistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Com o fim da guerra e a derrota da Itália, Lina decide que é hora de fazer mudanças em sua vida, nesse momento três coisas importantes acontecem: (1) ela se casa com o renomado artista italiano Pietro Bardi, (2) funda a revista “A Cultura della Vita” com o famoso teórico Bruno Zevi, (3) e em 1946 faz uma visita ao Brasil que mudaria sua vida para sempre. Lina gosta tanto do país canarinho que decide ficar. Apenas cinco anos depois dessa mudança, em 1951 adota o verde e amarelo como parte de sua vida e naturaliza-se brasileira. Isso explica o fato de muitas pessoas confundirem sua nacionalidade, a verdade é que ela é italiana com naturalização brasileira.

“Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi este lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, e eu me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri ao Triângulo Mineiro, às cidades do interior e da fronteira”

Lina Bo Bardi

No princípio de seu recomeço ela decide morar no Rio de Janeiro, pois era apaixonada pela natureza e arquitetura da cidade. Entretanto, acaba indo parar em São Paulo, onde faria história e deixaria um legado que seria eternizado na história da arquitetura moderna brasileira. Apesar do grande sucesso e reconhecimento de hoje, Lina Bo Bardi teve grandes dificuldades enquanto morava no Brasil, passou por vários momentos de crise e falta de projetos, isso acontecia pelo fato de que, além de ser estrangeira, Lina era mulher, e na época o mercado de arquitetura no Brasil era predominantemente masculino. Também é importante destacar que ela buscava um estilo mais livre, solto, e moderno, algo bem diferente de tudo que era feito naquele período. Todavia, apesar dessas barreiras, Lina conseguiu mostrar ao Brasil e ao mundo todo o seu potencial artístico, cultural e arquitetônico, vindo a ser uma das principais arquitetas do século XX.

Em 1950 cria a revista Habitat, um ano depois, em 1951 projetou sua própria residência, a famosa Casa de Vidro (Fig. 3), no bairro do Morumbi, em São Paulo, considerada uma das obras mais importantes de sua carreira. Em 1957, começou a construir a nova sede do MASP (Museu de Arte de São Paulo), na Avenida Paulista, que tinha por característica um vão de 70 metros de comprimento, o maior da América Latina até então.

Fig. 3. Casa de Vidro.

Em 1958, Lina é convidada para dar conferências na Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia, ainda no Nordeste recebe a proposta para dirigir o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) aonde projeta o restauro do Solar do Unhão e sua adaptação para à sede do museu [3]. Essa experiencia no norte do país desperta nela o desejo de começar a trabalhar com comunidades de classe baixa usando materiais típicos do Brasil e fazendo o que ela chamava de arquitetura povera, ou melhor dizendo, arquitetura simples. Retornando à São Paulo em 1966, retoma o projeto do MASP (Fig. 4), que após sua inauguração em 1968, se tornou um dos marcos mais importantes da arquitetura brasileira. Além de se caracterizar como um ponto de manifestações políticas seja de esquerda, seja de direita.

Fig. 4. MASP, SP.

Além dos já citados MASP, Casa de Vidro e Solar do Unhão, sua obra inclui outros projetos importantes como o SESC Pompeia (Fig. 5), A Igreja Divino Espiríto Santo do Cerrado (inspirada no Panteão de Roma) e o teatro oficina, que em 2015 foi considerado pelo jornal inglês The Guardiam, o melhor teatro do mundo [4].

Fig. 5. SESC Pompéia, SP.

A obra de Lina, entretanto, não engloba apenas projetos de arquitetura, mas também trabalhos de cenografia, artes plásticas, desenho de mobiliários, design gráfico, assim como design de joalherias. Essa grande mulher veio a falecer no dia 20 de marco de 1992, mas até hoje, é considerada uma das maiores profissionais e difusoras do modernismo que o Brasil já teve em sua história.

Referências:

1. Biografia Lina. Instituto Lina Bo e P.M. Bardi. Disponível em: <http://institutobardi.com.br/?page_id=87>. Acesso em 28 de Dezembro, 2018.

2. Lina Bo Bardi. Direção: Aurélio Michiles. Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, 1993. (50 min). Disponível em: <https://youtu.be/YBlK0-17VF0&gt>. Acesso em 28 de Dezembro de 2018.

3. PEREIRA, Juliano Aparecido; ANELLI, Renato Luiz Sobral. A ação cultural de Lina Bo Bardi na Bahia e no Nordeste (1958-1964). 2001.Universidade de São Paulo, São Carlos, 2001.

4. The 10 best theatres . The Guardiam. Disponível em; <https://www.theguardian.com/artanddesign/2015/dec/11/the-10-best-theatres-architecture-epidaurus-radio-city-music-hall>. Acesso em 28 de Dezembro, 2018.

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