A Casa da Cascada (Fig. 1) é sem dúvidas o maior projeto da vida de Frank Llord Wright, e talvez o maior projeto arquitetônico da história dos Estados Unidos, e nesse texto você será capaz de entender o porquê.
Nascido em 1867, Frank Lloyd Wright foi um arquiteto modernista que desenvolveu um estilo pessoal de modernismo, bem diferente daquele que estava sendo executado na Europa, principalmente com Le Corbusier e com a Bauhaus no início do século XX. Apesar de seus projetos possuírem características semelhantes ao modernismo europeu, como a planta livre (que ele atribui como sua invenção), janela em fita e terraço-jardim, sua arquitetura possui traços individuais, que se externalizam no contato de suas residências com o meio ambiente.
Wright se considerava um arquiteto organicista, ou seja, desenvolvia uma arquitetura que estava próxima da natureza, seja em suas técnicas construtivas, seja em seus materiais. A Casa da Cascata é a concretização deste ideal de projeto. Frank L. Wright também se enquadra no que ficou conhecido como Prairie Style [1], um estilo do final do século XIX e início do século XX, que tinha como principais características o telhado plano e as linhas horizontais. Mas esse talvez seja assunto para um outro texto.
Seria um grande erro começar essa análise sem mencionar o fato de que Wright foi aluno de Louis Sullivan [2], sim, o autor da famosa frase “a forma segue à função”. Toda essa vivência com seu professor, junto com um tempo de vivencia no Japão, vai fazer de sua arquitetura algo funcional, minimalista, e próximo à natureza.
A Casa da Cascata é um projeto que fica no Estado na Pensilvânia, Estados Unidos, e foi concluído em 1939, possuindo cerca de 1626 m2 de área construída. Na época de sua construção, a casa custou um total de US$ 150 mil dólares, algo em torno de US$ 3 milhões de dólares em valores atuais e corrigidos. Aparentemente, dinheiro não era um problema para os moradores.
O projeto foi encomendado pela família Kaufmann, que queria uma casa de fim de semana perto da cascata para relaxar e curtir a natureza longe da cidade. No entanto, Wright foi além, e disse certa vez ao proprietário: “Quero que viva na cascata, não que apenas olhe para ela” [3]. Para fazer com que o cliente se sentisse um só com a cachoeira, Wright buscou total integração com à natureza, que é o ponto principal de todo o conjunto arquitetônco. Uma prova disso é o fato de todos os cômodos se relacionarem com o entorno natural. A sala de estar, inclusive, apresenta uma escada que conduz diretamente ao riacho – local pela qual a família sempre tomava banho durante o verão (Fig. 2). Um fato interessante é que não houve mudança no curso do riacho, assim como um índice muito baixo de vegetação removida durante a execução.
Os principais materiais foram pedra, concreto, aço e vidro. A fundação da casa é a própria rocha pela qual ela esta assentada. Essas mesmas rochas adentram a sala de estar tornando-se um elemento decorativo, e não apenas estrutural no design da residência (Fig. 3). Isso cumpre um papel fundamental no objetivo de tornar a casa e a natureza só elemento. Outro ponto muito interessante são os terraços suspensos, técnica que só foi possível graças ao concreto armado [4]. Apesar de Wright ter pensado nos materiais locais, não dispensou o bom uso da tecnologia. Esses balcões em balanço são quase que elementos escultóricos de uma obra de arte ao ar livre, tendo a função de convidar os moradores a sair e apreciar à paisagem, que por sinal é belissíma.
A casa é formada por três andares, sendo o térreo uma área de reunião familiar com uma ampla sala de estar e uma cozinha compacta; o segundo pavimento era o local da suíte do casal, aconchegante e privado; e o terceiro andar foi projetado para ser um quarto de estudo para o filho de Kaufmann. Todos esses pavimentos são acompanhados de um terraço (Fig. 4), que como já foi falado, cumpre a função de mirante do espaço natural que envolve a casa. Uma curiosidade é que a maior parte das mobílias foram embutidas na parede, tornando a casa à prova de possíveis modificações.
Um fato muito triste é que em 1952, Liliane Kaufmann se matou na Casa da Cascata. Pouco tempo depois desta tragédia, Edgar também acabou falecendo. Em 2002, a construção recebeu um grande reparo estrutural, para evitar um eventual colapso. O custo da restauração urgente superou US$ 11 milhões de dólares.
Por fim, a casa e uma seleção de outras sete propriedades de Wright foram inscritas na Lista de Patrimônio Mundial sob o título “A arquitetura do século XX de Frank Lloyd Wright” em julho de 2019. Hoje, a casa é um museu, e local de peregrinação para estudantes de arquitetura e urbanismo ao redor do mundo.
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Bibliografia:
1. Yang, Mimi. “The Prairie Style: Rethinking the American Identity.” South Atlantic Review 81, no. 1 (2016): 81-93. Acesso em Fevereiro de 2020.
2. Frank Lloyd Wright, American Architect. Encyclopædia Britannica. Disponível em: < https://www.britannica.com/biography/Frank-Lloyd-Wright >. Acesso em: 11 de Fevereiro, 2020.
3. A polêmica casa sobre uma cascata considerada a ‘melhor obra de arquitetura dos EUA’. BBC Brasil. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/vert-cul-40451624>. Acesso em: 11 de Fevereiro, 2020.
4. GLANCEY, Jonathan. Story of Architecture. 2003. Dorling Kindersley Publisher. Página 162-63. London, UK.
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